A crise comercial entre Brasil e Estados Unidos reacendeu o debate sobre soberania digital e infraestrutura de pagamentos, após o presidente Donald Trump incluir o Pix entre os alvos da investigação por “práticas desleais” supostamente adotadas pelo governo brasileiro.
O questionamento partiu do USTR (Representante Comercial dos EUA), que alegou que a ferramenta criada pelo Banco Central tiraria vantagem de concorrentes privados, o que foi interpretado como uma crítica direta à liderança do Pix sobre meios de pagamento como cartões, aplicativos e transferências bancárias tradicionais.
A reação do setor privado foi imediata. Durante reuniões conduzidas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, gigantes como Apple, Meta, Google, Expedia e Visa defenderam abertamente um “Pix para todos” e descartaram qualquer leitura de que o sistema represente uma ameaça à livre concorrência.
“O que é importante? É que tem que ser de graça”, afirmou Alckmin, relatando o apoio das big techs à manutenção da gratuidade do sistema.
O movimento foi reforçado por declarações públicas de lideranças do setor. Cleber Morais, diretor-geral da AWS no Brasil, classificou o Pix como uma “tecnologia disruptiva” que alia inovação à regulamentação robusta, e reiterou o compromisso da Amazon com o ambiente de negócios brasileiro.
Luis Gonçalves, presidente da Dell para América Latina, foi ainda mais enfático: “O Pix é fenomenal. Estabeleceu um fluxo de capital acessível e ágil em todos os níveis da sociedade.
Hoje, o sistema financeiro brasileiro é visto como um dos mais desenvolvidos do mundo”.

O setor público também reagiu. O ministro Fernando Haddad rejeitou a hipótese de privatização do Pix e disse que a ferramenta concorre apenas com o papel-moeda, não com serviços financeiros.
Segundo ele, a gratuidade do sistema é uma conquista da população e será preservada. Em reforço à defesa institucional, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, rebateu as acusações dos EUA durante evento no dia 6. “Os cartões de crédito e débito cresceram mais depois do Pix, o que desmonta qualquer ideia de rivalidade. Estamos diante de versões que tentam se sobrepor aos fatos”, afirmou.
A crítica dos EUA ocorre no momento em que o Pix completa quatro anos como o meio de pagamento mais usado pelos brasileiros.
Segundo estimativas do setor, a ferramenta tornou-se referência internacional por combinar acessibilidade, agilidade e um ambiente regulatório estável. “O Brasil vive uma revolução silenciosa em tecnologia bancária e o mundo começa a perceber”, afirmou a fintech NAVA.
Para Emanuela Ramos, Chief Growth Officer da empresa, o país está pronto para exportar não apenas soluções tecnológicas, mas também uma nova liderança em inclusão e transformação digital.
A investigação norte-americana tem como pano de fundo uma série de tensões comerciais, incluindo acusações ligadas ao etanol, desmatamento e pirataria.
Mas é no terreno da tecnologia e dos pagamentos que a disputa ganhou contornos simbólicos: o modelo gratuito, acessível e estatal do Pix se contrapõe diretamente ao modelo norte-americano, baseado em lucro por intermediação privada.
A defesa unânime de big techs e instituições financeiras brasileiras aponta que, nesta arena, a inovação parece estar do lado do Brasil.
Foto: Laurenz Heymann/Unsplash
