Apesar do cenário de inflação em alta, contratações estagnadas e baixa confiança do consumidor, os principais índices de Wall Street atingiram níveis históricos neste mês.
O S&P 500 marcou quatro recordes, e o Dow Jones fechou acima de 46.000 pontos pela primeira vez na quinta-feira (11).
O aparente paradoxo se explica: as más notícias econômicas aumentaram a pressão sobre o Federal Reserve para cortar juros, e investidores comemoram essa perspectiva.
O mercado precifica 100% de chance de redução nos juros já na reunião do Fed marcada para 17 de setembro. Há também 86% de probabilidade de corte em outubro e 80% em dezembro, segundo o CME FedWatch.
Investidores esperam custos de empréstimos menores, o que tende a valorizar ações, reduzir despesas com dívidas e ampliar o espaço para contratações. Esse otimismo também se refletiu no mercado de títulos do Tesouro, considerado porto seguro, que registrou forte alta com rendimentos em queda.
Além da política monetária, os balanços corporativos seguem sólidos. As previsões de crescimento de lucros e vendas dão confiança ao mercado.
Outro motor é a inteligência artificial: nove das dez companhias mais valiosas da Bolsa estão profundamente envolvidas no setor, respondendo por cerca de 40% do valor total do mercado. A Oracle, por exemplo, subiu 36% em apenas um dia após divulgar projeção recorde de demanda por datacenters ligados à IA.
Mesmo com as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, as empresas encontraram previsibilidade para tomar decisões e os consumidores mantiveram o ritmo de gastos. Em julho, as despesas cresceram 0,5%, dado essencial, já que o consumo representa mais de dois terços do PIB americano.
Apesar do otimismo, há sinais de alerta. O S&P 500 negocia a múltiplos históricos: 25 vezes o lucro estimado, nível considerado caro. A inflação pressiona os orçamentos das famílias, que gastam em média US$ 195 a mais por mês.
Com dívidas elevadas e o retorno dos pagamentos de empréstimos estudantis, previsto para retirar US$ 80 bilhões da economia em 2025, cresce o risco de inadimplência.
Outro sinal vem do ouro, que acumula alta de 40% no ano e superou seu recorde histórico ajustado pela inflação, movimento típico de investidores que buscam proteção contra o aumento de preços.
Foto: Jakob Owens/Unsplash

