O Brasil deu um novo passo rumo à liderança nas discussões sobre sustentabilidade e clima. Lançada nesta quinta-feira (23), em São Paulo, a Rede de Inteligência em Agricultura e Clima (RIAC) reúne seis instituições de pesquisa, Agroicone, FDC Agroambiental, FGV Agro, Insper Agro Global, Instituto Equilíbrio e Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), com o objetivo de reposicionar a agricultura tropical como parte das soluções para a crise climática global.
A iniciativa nasce com a proposta de integrar ciência, políticas públicas e práticas produtivas regenerativas nos países tropicais. Para a pesquisadora Ludmila Rattis, porta-voz da rede, a meta é transformar evidências científicas em políticas mais técnicas e menos ideológicas.
“Precisamos pensar em regeneração, não apenas em conservação. Queremos manter a produtividade com práticas que recuperem o solo, aumentem a resiliência das lavouras e reduzam emissões”, explicou.
O primeiro estudo da rede, desenvolvido pelo Insper Agro Global, defende o “reposicionamento político-estratégico da agricultura tropical” e propõe que o tema seja incluído como pilar oficial do regime climático internacional, a ser discutido na COP30, em Belém (PA).
O documento destaca que os países entre os trópicos concentram 40% das terras aráveis e mais de 50% da água doce do planeta, mas recebem apenas uma fração dos recursos globais de financiamento climático.
Para Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global e autor do estudo, é hora de inverter essa lógica. “Durante décadas, o debate global foi conduzido por países de clima temperado. Queremos mostrar que a agricultura tropical é uma estratégia, não uma vulnerabilidade”, afirmou.
Os dados da pesquisa mostram o potencial do modelo brasileiro: desde os anos 1980, o país tem crescimento de produtividade agrícola superior a 3% ao ano, enquanto a África Subsaariana registrou apenas 0,4%.
Segundo Jank, o diferencial está na ciência tropical e na difusão de tecnologias adaptadas, como os sistemas integrados de agricultura, pecuária e florestas, que combinam produtividade e sustentabilidade.
O estudo também recomenda a criação de instrumentos específicos de financiamento para práticas regenerativas e recuperação de áreas degradadas, incluindo crédito climático, seguros rurais e modelos de blended finance com participação privada.
“A maior parte dos fluxos financeiros ainda vai para países temperados. É preciso corrigir esse desequilíbrio para que o trópico contribua plenamente para a transição verde”, aponta o relatório.
A RIAC pretende aproveitar a COP30 como vitrine para ampliar o diálogo entre países tropicais da América Latina, África e Ásia, promovendo uma agenda de cooperação Sul–Sul voltada à biodiversidade do solo, irrigação e bioinsumos.
“A COP é o espaço ideal para levar a ciência tropical ao campo e mostrar que a regeneração é viável. O Brasil tem liderança global em pesquisa agrícola, e o desafio agora é transformar conhecimento em prática”, concluiu Ludmila Rattis.

