O primeiro dia do Cooperativismo na COP30 começou com o auditório três da Agri Zone lotado para o painel Cooperativismo e Financiamento Climático.
O encontro destacou o papel decisivo das cooperativas na expansão do crédito verde, na conexão de produtores às políticas públicas e na transição para uma economia de baixo carbono, especialmente em regiões com baixa presença bancária.
A abertura foi conduzida por Eduardo Queiroz, coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB, que também mediou o painel.
Ele lembrou que o cooperativismo de crédito nasceu para oferecer financiamento justo e acessível, sendo hoje a única instituição financeira em 469 municípios.
Queiroz apresentou números que reforçam o papel do setor na agenda climática: R$ 90 bilhões em crédito verde em 2024 e 50 milhões de pessoas atendidas com educação financeira.
O chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional do BNDES, Tiago Peroba, ressaltou a importância das cooperativas para viabilizar o financiamento da economia verde e reduzir desigualdades regionais.
“As cooperativas são grandes parceiras do BNDES. Desde 2023, já financiamos R$ 96 bilhões em economia verde, e 73% dessas operações, em número, foram intermediadas pelo cooperativismo de crédito”, afirmou.
Peroba observou, porém, que ainda há desafios estruturais, como a regularização fundiária e a falta de garantias reais, que limitam o acesso ao crédito em parte da Amazônia.
Representantes de três grandes sistemas cooperativos compartilharam experiências sobre crédito sustentável.
- Danilo Macedo, do Sicredi, destacou os R$ 12 bilhões financiados em energia solar e o avanço de programas de inclusão produtiva e empreendedorismo feminino, que já representam 30% dos financiamentos rurais.
- Gustavo Soares, do Sicoob, apontou o atendimento a mais de 600 mil produtores e R$ 55 bilhões em crédito rural, além de parcerias com a Embrapa e comunidades indígenas para promover boas práticas agropecuárias.
- Jaap van Waalwijk van Doorn, da Cresol, apresentou o impacto do microcrédito rural e o foco na bioeconomia amazônica. A instituição possui R$ 50 bilhões em ativos, mais de mil agências e pretende investir R$ 320 milhões em bioeconomia, com a inclusão de 8 mil novos cooperados.
A secretária de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, Júlia Cruz, defendeu a integração entre preservação ambiental e geração de renda.
Ela apresentou um programa piloto de desenvolvimento inclusivo em cadeias produtivas amazônicas e reforçou o papel das cooperativas na capacitação e gestão comunitária.
“Não há preservação da Amazônia sem inclusão social e renda local. A parceria com o cooperativismo é fundamental para transformar conhecimento em autonomia produtiva”, afirmou.
No mesmo dia, o presidente do Sistema OCB/PA, Ernandes Raiol, participou do painel O Senar na Agri Zone, promovido pela CNA. Ele destacou os obstáculos enfrentados pelas 82 cooperativas do Pará, que atuam na recuperação de áreas degradadas e no fortalecimento de sistemas agroflorestais.
“Temos recursos e capacidade de investir, mas ainda esbarramos em barreiras legais que impedem o crédito de chegar a quem produz. A Amazônia precisa de tecnologia, infraestrutura e segurança jurídica. O cooperativismo está pronto para fazer a sua parte”, concluiu Raiol.
O primeiro dia do evento consolidou o cooperativismo como elo estratégico entre crédito verde, inclusão social e desenvolvimento regional, apontando caminhos concretos para a transição climática com base produtiva local.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

