Nos últimos cinco anos, a relação dos brasileiros com o dinheiro passou por uma transformação profunda. Transferências bancárias, antes feitas via TED ou DOC e sujeitas a taxas e longa espera, foram substituídas por operações instantâneas.
Empréstimos e investimentos, que exigiam visitas presenciais aos bancos, deram lugar a soluções digitais. Nesse vácuo deixado por um sistema bancário concentrado e pouco eficiente, surgiram fintechs que passaram a atender públicos antes negligenciados pelos grandes bancos.
A pandemia acelerou esse movimento e culminou no lançamento do Pix, em novembro de 2020, mudando radicalmente o cenário dos pagamentos no país. Mas as mudanças não pararam aí.
Se os últimos anos foram marcados pela digitalização, os próximos devem ser guiados pela descentralização e pelo fim das fronteiras. As criptomoedas e o blockchain despontam como vetores dessa nova etapa, com impactos que vão além da tecnologia e tocam em questões de ordem filosófica.
“O mundo está ficando com fronteiras cada vez mais claras e elevadas, e essa é exatamente a antítese do blockchain. Quando um lado puxa para um extremo, a tendência é que o lado oposto se fortaleça também”, afirma João Zecchin, cofundador da BRX Finance, empresa especializada em infraestrutura financeira baseada em blockchain.
Zecchin fundou a gestora Fuse Capital em 2019, ao lado de Guilherme Hug, Alexis Terrin e Dan Yamamura. Inicialmente voltada a venture capital tradicional, a gestora passou a focar em blockchain a partir de 2020.
Em 2023, a Fuse se uniu à Transfero para criar a BRX Finance, apostando na complementaridade entre os dois negócios para desenvolver soluções para o sistema financeiro descentralizado.
Entre os caminhos que ganham força está o uso de stablecoins, ativos digitais lastreados em moedas fiduciárias. Para João, elas representam um avanço rumo a um sistema mais conectado. “Hoje, já é possível pensar em aplicações como o investimento em títulos do Tesouro americano em blockchain, o que era impensável há dois anos”, pontua.
Ele destaca ainda que o futuro deve equilibrar liberdade tecnológica e proteção regulatória. “O futuro é anárquico no sentido de quebra de barreiras, mas o regulador está vindo numa linha de querer entender e proteger o consumidor final, o que é o melhor dos dois mundos”, avalia.
O Mercado Bitcoin, uma das primeiras plataformas de negociação de criptoativos do Brasil, também mira esse novo horizonte. A empresa, que surgiu há 12 anos, ampliou seu foco nos últimos cinco anos, incluindo a tokenização de ativos de renda fixa em sua plataforma.
Com mais de 4,3 milhões de clientes, a meta agora é alcançar 25 milhões até 2030. Segundo o CEO Reinaldo Rabelo, as stablecoins serão protagonistas nessa nova fase. “Todo banco será um banco com moeda digital, seja com o Drex ou com emissões privadas. Assim como aconteceu com TED e DOC, as transferências internacionais vão se tornar mais simples e baratas, como se fosse um Pix entre países”, projeta.
