Enquanto parte da indústria de tecnologia se dedica a eliminar as chamadas “alucinações” da inteligência artificial, respostas ou imagens distorcidas, que fogem da realidade, a designer Norma Kamali decidiu seguir na contramão.
Aos 80 anos, a estilista que revolucionou a moda em diferentes momentos desde os anos 1970 passou a usar justamente essas falhas como combustível criativo.
Em parceria com cientistas da computação, Kamali desenvolveu uma plataforma própria de IA treinada com referências de seu acervo.
O sistema já ajudou a repensar peças icônicas, como o Sleeping Bag Coat, e a criar propostas inéditas. Para a estilista, no entanto, as ideias mais inspiradoras surgem quando a tecnologia “erra”.
Um exemplo citado por ela é a fusão improvável entre um maiô com cauda de peixe e um casaco de dormir. “O resultado foi louco e maravilhoso, uma mistura de arte, moda e tecnologia”, disse Kamali em entrevista à Fast Company.
O olhar experimental acompanha a trajetória da designer. Nos anos 1970, ela antecipou os casacos puffers; na década seguinte, foi pioneira no estilo esportivo que deu origem ao conceito de athleisure; já nos anos 2000, levou peças sofisticadas às prateleiras do Walmart.
Agora, a abertura para usar a IA como ferramenta de criação reflete esse histórico de inovação. “Sempre há medo, mas existe muito mais oportunidade. Estou me divertindo pedindo para a IA brincar com minhas ideias”, afirma.
Kamali reconhece que, com o avanço das pesquisas, os sistemas de inteligência artificial tendem a se tornar mais precisos e a reduzir as falhas. Ainda assim, ela enxerga este momento como único na história da moda: um período em que a tecnologia ajuda a repensar limites estéticos e questionar padrões.
Para a estilista, as alucinações não são erros a corrigir, mas sim novas lentes criativas para imaginar o futuro do design.

