Em um movimento sem precedentes, Nvidia e AMD firmaram um acordo com o governo dos Estados Unidos: ambas concordaram em destinar 15% da receita gerada com a venda de chips de inteligência artificial para a China como condição para retomar as exportações, uma exigência considerada incomum e polêmica por especialistas.
As negociações ocorreram após o bloqueio imposto em abril, que suspendeu exportações de chips como o H20 (Nvidia) e MI308 (AMD).
Em julho, a medida foi revista após intensas conversas entre o CEO da Nvidia, Jensen Huang, e o presidente Trump, levando à retomada das vendas com a condição financeira mencionada.
A estratégia tem potencial de gerar bilhões de dólares ao Tesouro americano, com estimativas que variam de valores entre US$ 2 bilhões e até US$ 7,5 bilhões anuais, dependendo da demanda.
Críticos apontam que o acordo se configura como uma espécie de “pay‑to‑play”, termo que sugere que empresas pagaram para obter licença, algo inédito e questionável sob a ótica legal.
Especialistas alertam que a Constituição dos EUA proíbe impostos sobre exportações, colocando o governo em rota de colisão com a base legal tradicional.

Além disso, a decisão auxilia as empresas a manter sua presença no mercado chinês, uma vantagem competitiva importante frente à rivalidade tecnológica com empresas como Huawei e DeepSeek, mas também pode prejudicar a segurança nacional e comprometer a confiança do mercado em normas de controle de exportação.
Em relatório da Bernstein, estimou-se que apenas o H20 da Nvidia poderia gerar cerca de US$ 23 bilhões em vendas para a China em 2025. O repasse de 15% representaria uma receita bilionária ao governo, caso a demanda se concretize. Ainda assim, analistas alertam que essa cobrança pode reduzir as margens das empresas entre 5 a 15 pontos percentuais e reduzir os lucros por ação.
Essa medida ocorre em meio à crescente disputa tecnológica com a China. Embora o acordo permita manter presença comercial, críticos advertem que ele também sinaliza uma disposição dos EUA para flexibilizar o controle de tecnologia diante de imperativos econômicos.
O acordo entre Nvidia, AMD e o governo dos EUA reflete uma abordagem pragmática e controversa no equilíbrio entre competição global e segurança nacional.
A imposição de um pagamento fixo como condição para exportação rompe com as práticas tradicionais de controle e pode estabelecer um precedente perigoso para futuras decisões de política comercial e tecnológica.
Foto: Mariia Shalabaieva/Unsplash
