A partir de 1º de agosto, os Estados Unidos devem aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, acendendo o sinal de alerta em setores estratégicos como agronegócio, metalmecânico, siderúrgico, pesca, frutas e café.
A medida foi anunciada por Donald Trump no início de julho, com justificativa de reequilíbrio comercial e atrito político com o governo Lula.
Desde então, o Planalto mobilizou senadores, diplomatas e a equipe econômica numa corrida contra o tempo para tentar reverter a decisão. Mas as chances são cada vez menores.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirma ter mantido conversas com autoridades norte-americanas, incluindo o secretário de Comércio, Howard Lutnick, mas os esforços não surtiram efeito. “Todo dia ele liga para alguém, e ninguém quer conversar com ele”, disse Lula na última sexta-feira (24).
No domingo (27), Lutnick foi categórico: “Sem mais períodos de carência”. Horas depois, o próprio Trump reafirmou que não haverá adiamento da tarifa.
O Brasil é o país mais atingido pela nova política comercial americana. Nações como Reino Unido, Japão e União Europeia já fecharam acordos bilaterais e conseguiram reduzir a alíquota a patamares menores, entre 10% e 15%.
As estimativas de prejuízo para o Brasil são expressivas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta perdas de R$ 52 bilhões nas exportações e corte de 110 mil empregos no curto prazo.
A Fiemg calcula impacto de até R$ 175 bilhões no PIB, com redução de 1,3 milhão de postos de trabalho no longo prazo.
Se o Brasil decidir retaliar com tarifa equivalente sobre produtos americanos, os danos seriam ainda maiores: queda de R$ 259 bilhões no PIB, perda de quase 2 milhões de empregos e redução de R$ 36 bilhões na massa salarial, segundo a federação.
Enquanto o cenário se agrava, os efeitos já começam a aparecer. Empresas de ferro-gusa em Minas Gerais suspenderam embarques e alertam para possível paralisação das operações.
Exportadores de manga, uva e pescados relatam incerteza total diante da ausência de mercados alternativos. O setor de suco de laranja, que responde por 70% das importações americanas, tenta, junto aos parceiros dos EUA, pressionar por uma exceção à nova tarifa.
A resposta do governo brasileiro deve incluir um plano de contingência com medidas emergenciais, como abertura de crédito para empresas impactadas e outras ações dentro do marco legal internacional. O documento já foi finalizado e aguarda decisão do presidente Lula.
Analistas avaliam que a tensão diplomática criada por Trump, ao condicionar a reversão da tarifa ao fim do julgamento de Bolsonaro, complicou as negociações e isolou o Brasil do diálogo. Para a Eurasia, não há espaço para reversão no curto prazo.
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